Na crise, empresas repensam finanças e processos – Associação Empresarial de Vinhedo

Finanças e Processos

A Omron, de origem japonesa, fabrica componentes eletrônicos automotivos no Distrito Industrial de Vinhedo. Em três anos, passou de três turnos para apenas um. E, neste ano, a empresa perdeu 30% do setor automotivo. “Quem quer comprar um carro zero hoje, achando que vai ser dispensado amanhã?”, questiona o controller da empresa, Josué Gonçalves.

O cenário econômico brasileiro – marcado por lentidão no ajuste de políticas, escândalos de corrupção e instabilidade – não é novidade. Há 12 milhões de desempregados no país e a retração do PIB em 2016 deve ser de cerca de 3%. Em Vinhedo, os números são positivos, mas tímidos: na balança de empregos, o saldo é de 259 contra tações de janeiro a setembro deste ano, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Josue Gonçalves - Omron
Josué Gonçalves, controller da Omron, busca inovação

A Omron está tentando se equilibrar na corda bamba da instabilidade que assusta investidores; do câmbio volátil, que torna uma missão quase impossível o gerenciamento de uma empresa que importa 60% de seus produtos; e da perda de benefícios fiscais do setor. A R&F Log, empresa de serviços e comércio exterior, também sofreu com a crise. O diretor financeiro, Charlie Decari conta: “Passamos por uma dificuldade bem grande. Se eu não tivesse um caixa, teria quebrado. O mais importante é pedir a direção de Deus. Ninguém faz nada sozinho.”

Gastos desnecessários

Amarrar as pontas da corda e estender a rede de segurança embaixo: assim como tantas outras, as duas empresas procuram estratégias para lidar com as dificuldades financeiras. O primeiro ponto é a redução de custos: Decari reduziu a quantidade de papel A4 em dois terços e cortou gastos de gasolina dos donos da empresa.

“Quando tudo vai bem, até na vida pessoal, a gente faz algumas extravagâncias. Mas temos que mudar nossa cultura”, afi rma, por sua vez, Josué Gonçalves. O controller da Omron conta que reduziu gastos com o cafezinho – de cerca de sete mil reais por mês para oitocentos – ao abrir mão das máquinas de café em favor de garrafas. “O que é melhor? Manter essa conta ou preservar dois ou três operadores que têm famílias?”, pergunta.

Sergio Miorin - AEV
Sergio Miorin, consultor, aponta para o valor do RH

Para o consultor empresarial Sergio Miorin, da SM Consultoria, a demissão deve ser o último recurso: “As empresas poderiam tentar segurar o profissional o máximo possível para não perder a experiência, a expertise. O profissional, por melhor que seja, demora seis meses para começar a engatinhar dentro de uma empresa”.

Decisões cautelosas no RH tornamse particularmente relevantes em um momento em que o mundo dos negócios crê ter visto a luz no fim do túnel: “As empresas se desestruturaram com a crise, mas agora está todo mundo correndo para se reestruturar de julho a dezembro, porque ano que vem quer começar com tudo. O valor que gastaram para demitir e contratar é absurdo”, afirma Miorin.

Relacionamento

Mas cortes na folha de pagamento ou em outras áreas sensíveis podem ser indispensáveis para algumas empresas. Ao tomar essas medidas, a diretoria deve relacionar-se de forma transparente com a equipe, argumenta o consultor Sergio Miorin: “Mostre os resultados, mostre a possibilidade que a empresa pode ser fechada – envolva oso colaboradores nessa fase de recuperação da empresa e peça a contribuição.”

Para o controller da Omron, Josué Gonçalves, é fundamental dar o primeiro passo: “A diretoria precisa aprender a ser o exemplo, a ser o primeiro a cortar gastos. Só então a gente consegue superar, porque as pessoas respeitam, acreditam e fazem acontecer. Obviamente tem gente que não vai querer nunca mudar, mas uma boa parte vai aderir”.

Inovação

Além do simples corte de despesas, a inovação pode ser uma ferramenta para lidar com dificuldades financeiras. Repense os processos da empresa e incentive os colaboradores a contribuírem com sugestões de melhoria: envolva-os. “Fizemos mais de 10 ou 15 Kaizens para reduzir o custo da empresa. E aí a gente conseguiu melhorar bastante”, afirma Gonçalves.

O controller também aplica o jargão da Toyota: “Dizem assim: se você tem uma linha com dez funcionários trabalhando e quer melhorar essa linha, tire um.” A ideia é incentivar o grupo a gerar ideias para melhorar o processo produtivo, suprindo a falta de quem saiu – não necessariamente demitido, mas realocado internamente.

Iniciativa

E quando nenhuma dessas ferramentas – corte de gastos ou inovação – ajuda a empresa? Pode ser o caso de “repensar o produto, ou repensar o posicionamento da empresa no mercado”, afirma o consultor Sergio Miorin, “o marketing pode posicionar a empresa de maneira completamente diferente com o mesmo produto. Fora isso, às vezes tenho que fazer uma pesquisa de mercado, ver se meu produto está sendo competitivo, ver quem é excelência, o que o concorrente está fazendo”. Ou seja, manter os olhos e a mente aberta para enxergar novas possibilidades.

Dicas para controlar melhor as contas

de Charlie Decari

1. Faça um planejamento financeiro
Controle gastos e entradas com planilha ou software

2. Seja organizado
Isso ajudará a prever o que vai acontecer financeiramente

3. Realize o controle de todos os gastos
Analise o fluxo de caixa diariamente

4. Pague as contas em dia
Evite juros e multas

5. Antecipe pagamento que ofereça desconto
Economize – e ganhe crédito com os fornecedores

6. Cuide para que não haja endividamento

7. Negocie com seus credores
Evite problemas e acúmulo de juros

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